O Celtismo e a Natureza. A evolução do pensamento.

Livro: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível

Autor: Léon Denis

 

(Tours, 29 de outubro de 1926)

 

O Celtismo é o símbolo de um pensamento que emana do infinito e é transmitido por correntes emprestadas das artérias da vida universal. É uma das formas evolutivas da vida vibratória do Espaço. As árvores ajudaram poderosamente na aspiração dessas vibrações. O solo e as plantas, que aí estão entrosados, agiram no mesmo sentido.

O ser humano irá também aspirar essas vibrações? O druida, vivendo no íntimo da Natureza, ao se adaptar, por suas aspirações, à vida no Espaço, foi um dos primeiros seres que registrou as vibrações sob a forma de intuições. Mas o druida era um ser um pouco especial, animado de uma fé ardente. Ele se exteriorizava em uma grande amplitude da vida material ambiente. Era um ser evoluído, mas os seres rudimentares, que viviam ao seu redor, levaram séculos antes de serem capazes de aspirar as ondas do espaço.

Percorrendo a história, vós podereis constatar que as flutuações morais se alternaram como as flutuações materiais. Assim como os druidas levavam em conta o fluxo e o refluxo do mar, as civilizações humanas se inspiram no fluxo e refluxo do pensamento.

Conforme a lei das reencarnações, as massas humanas não estão na mesma evolução, pois não aspiram em um mesmo grau as ondas do espaço. Houve, então, retrocesso após os tempos druídicos. Era preciso civilizar o ser humano, infundindo-lhe, inicialmente, o Cristianismo e depois o culto da beleza pelas Artes e as Letras. Finalmente, o ponto de vista científico desenvolve-se e o Celtismo e a ciência vão, fatalmente, se unir.

A doutrina céltica, na sua pureza e na sua beleza, é como a essência do ensino inspirado pela fé na vida superior. Através da história o ser humano foi abalado, em épocas diferentes, por inspirações geniais, e se vós comparardes o ensino dos druidas com a recepção intuitiva de pensamentos superiores mais ou menos modernos, vós podereis verificar que há uma correlação.

Fazendo caminhar em igualdade a civilização humana e a elevação do pensamento, tomando como ponto de partida o ponto de vista céltico, vós vereis que, em todos os grandes momentos da história, a centelha mais ou menos genial de vossa raça é alimentada nas fontes puras do Celtismo. Mas, com o fluxo e o refluxo do pensamento, esta centelha foi encoberta, em diferentes momentos, pela falta de homogeneidade dos seres que viveram em determinadas épocas. Há uma lei que exige que o progresso da encarnação não seja sempre constante. Mas, na criação de um mundo, há sempre elementos imperecíveis tomados emprestados da vida universal.

Os primeiros druidas inculcaram nas populações uma fé bem viva por meio de exemplos retirados da natureza, mas num dado momento a fé foi obscurecida e foi discutida. A sua forma mudou através do tempo, mas se vós analisardes todas as religiões, aí encontrareis sempre a essência do divino que anima, incontestavelmente, a doutrina céltica pura.

Por isso o Celtismo reconhece a existência de um foco superior que influenciará nas condições racionais o ser humano que vive sobre vosso globo. Como o druida foi atingido pelas ondas do espaço, a fé, sob muitas formas, tocou os seres através dos tempos, e agora a fé e a ciência devem reencontrar-se.

No presente, posso dizer-vos que o ser humano, após um certo número de encarnações, e quando possui uma sensibilidade constante e equilibrada, recebe diretamente os pensamentos transmitidos por ondas do espaço completando o seu livre-arbítrio, mas é preciso que chegue a um desenvolvimento superior para receber essas vibrações. Ele deve estar isento de emanações materiais que se desprendem de seu ser e paralisam a marcha do fenômeno da recepção. Se o druida recebia quase diretamente as intuições, é que ele bebia nas próprias fontes da natureza.

Ele era, por destino, um iniciado. No correr dos tempos esses iniciados foram reencontrados; poder-se-ia chamá-los de neodruidas. Não adiantarei muito vos dizendo que, no futuro, se a fé ardente não penetrar no íntimo de certos indivíduos, pelo menos vós registrareis, com o auxílio de vosso trabalho científico, fenômenos surpreendentes. Vós publicareis a marcha ascendente e descendente dos rastros de ondas extraplanetárias.

Os druidas ensinaram a existência dessas forças desconhecidas. As vibrações de amor pelo foco divino, a figuração da natureza sempre animada foram os primeiros sinais de que tudo no Universo é regido por leis superiores. As vibrações harmônicas mantêm a vida e fazem escoar através de seus anéis a luz que esclarecerá o mistério da vida superior e divina.

A doutrina materialista baseada unicamente na ciência soçobrará. A doutrina espiritualista baseada na fé e na experiência deve auxiliar na iniciação progressiva. É preciso que a inspiração gradual dada pela fé espiritualista esteja a par com a ciência. A ciência é o farol e a fé é a luz que o alumia.

Allan Kardec

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