Tributo à João Huss

Livro: Revista Espírita

Autor: Allan Kardec

 

(Paris, 17 de agosto de 1869)
 
Analisando através das eras a história da Humanidade, o filósofo e o pensador logo reconhecem, na origem e no desenvolvimento das civilizações, uma gradação insensível e contínua. De um conjunto homogêneo e bárbaro surge, em primeiro lugar, uma inteligência isolada, desconhecida e perseguida, mas que, não obstante, faz época e serve de baliza, de ponto de referência para o futuro. A tribo, ou se quiserdes, a nação e o Universo avançam em idade e as balizas se multiplicam, semeando aqui e ali os princípios de verdade e de justiça que serão a partilha das gerações que chegam. Essas balizas esparsas são os precursores; eles semeiam uma idéia, desenvolvem-na durante sua vida terrena, vigiam-na e a protegem no estado de Espírito, e voltam periodicamente através dos séculos para trazerem seu concurso e sua atividade ao seu desenvolvimento.
 
Tal foi João Huss e tantos outros precursores da filosofia espírita.
 
Semearam, laboraram e fizeram a primeira colheita; depois voltaram para semear ainda, esperando que o futuro e a intervenção providencial viessem fecundar sua obra.
 
Feliz aquele que, do alto do espaço, pode contemplar as diversas etapas percorridas e os trabalhos realizados por amor à verdade e à justiça; o passado não lhe dá senão satisfação, e se suas tentativas foram incompletas e improdutivas no presente, se a perseguição e a ingratidão por vezes ainda vêm perturbar a sua tranqüilidade, ele pressente as alegrias que lhe reserva o futuro.
 
Glória na Terra e nos espaços a todos os que consagraram a existência inteira ao desenvolvimento do espírito humano. Os séculos futuros os veneram e os mundos superiores lhes reservam a recompensa devida aos benfeitores da Humanidade.
 
João Huss encontrou no Espiritismo uma crença mais completa, mais satisfatória que suas doutrinas e o aceitou sem restrição. Como ele, eu disse aos meus adversários e contraditores: “Fazei algo de melhor e me reunirei a vós.”
 
O progresso é a eterna lei dos mundos, mas jamais seremos ultrapassados por ele, porque, do mesmo modo que João Huss, sempre aceitaremos como nossos os princípios novos, lógicos e verdadeiros que cabe ao futuro nos revelar.
 
Allan Kardec