Mesmo assunto

Livro: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível

Autor: Léon Denis

 

(Tours, 02 de março de 1926)

 

Já falei de três focos: o budista, o cristão e o druídico. Sabeis que o foco cristão, que, em suma, é uma emanação das doutrinas orientais, difundiu-se avançando para a Itália, depois foi de encontro a uma esfera independente que representava um pólo de atração igual, constituído pelo mundo céltico. Mesmo em épocas afastadas, grandes focos de atração foram criados, e vieram seres em missão, após terem habitado planetas mais avançados, mais antigos que o vosso, a fim de aí lançar, ao lado do trabalho material, a semente que alimentava a chama das consciências humanas.

O tempo não existe; o destino e a vida universal se desenvolvem eternamente. Quando as moléculas gasosas de calor, de vapor e de água, que formaram a vossa Terra, se condensaram para formar o protoplasma da matéria, era preciso que, entre os seres que deviam povoar este mundo novo, os iniciados superiores viessem transmitir às consciências bem primitivas a aceitação de uma lei de ordem superior.(*)

É com essa finalidade que no Oriente, na Palestina e na Gália os focos de atração foram formados. Se o princípio fundamental que os inspirava era o mesmo, a forma pôde variar nas suas aplicações; mas analisando estes princípios, nota-se que a tese da sobrevivência eterna aí é igualmente aceita. Os druidas, estabelecidos no litoral, se inspiraram em elementos diretos exteriores para a concepção dos três círculos, sintetizando as forças naturais e morais. Existia uma iniciação de vários graus e pode-se reencontrá-las nas formas do culto; é no Cristianismo que a iniciação foi menos investigada. Julgo que a doutrina do Cristo era mais pura que as outras, por ser mais simples.

Os druidas eram tanto mais iniciados quanto mais acentuado era o seu grau pessoal de mediunidade. Entre eles, o sacerdote e a sacerdotisa, vivendo no seio da natureza, recebiam a iniciação por intuição de um modo mais direto do que no culto cristão. Ao se analisar o Druidismo, encontramos um ensino esotérico muito desenvolvido. Entretanto, o Cristianismo lhe é superior sob o ponto de vista humano, porque se adapta mais particularmente às fraquezas humanas, enquanto que o Druidismo, com as suas doutrinas de ordem elevada, considerava a raça humana como inferior. Seu ensino, melhor compreendido pelos privilegiados, levava para o povo certas superstições.

Em resumo, no Celtismo deve-se somente guardar o princípio inicial; seus sacerdotes, vivendo em contato com a natureza, ligavam-se intimamente com as forças invisíveis; mas, por haverem conservado, apesar de tudo, moléculas materiais, disso resultava que a transmissão de seu ensino se deformava, negligenciando muito as noções de justiça e de amor, no seio de uma população ainda bárbara naquela época.

Nota-se, pois, que os três focos: budista, cristão e druídico se completam. Jesus Cristo personifica a luz das esferas quase divinas, luz que, por suas ondas benfeitoras, deve esclarecer e vivificar a consciência. O Druidismo, bebendo nas fontes vivas da natureza, sentia as vibrações do mundo e as emanações da vida universal. Aquilo que o Cristo recebia diretamente dos seres superiores o druida obtinha por meio de correntes transmissoras do pensamento dos seres desencarnados.

Formam-se na hora atual novos grupamentos fluídicos, que ainda não se condensaram, destinados a formar um foco atrativo que será o quarto ciclo. Este aceitará a realidade da vida superior, suscetível, em certas condições, de comunicar com os seres humanos dotados de conhecimentos científicos aliados a um ideal elevado. Suas convicções ajudarão a restabelecer o equilíbrio necessário entre a existência material e a inspiração espiritual.

(*) Deve tratar-se de um lapso de transmissão mediúnica, visto o calor ser uma energia calorífica e, portanto, formada de ondas. (N.T.)

Allan Kardec