Evolução do pensamento através dos séculos

Livro: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível

Autor: Léon Denis

 

(Tours, 12 de junho de 1926)

 

Em nossa última conversa, vos falei dos três grandes focos espiritualistas iluminados sobre a Terra para clarear a marcha da humanidade. O foco oriental foi posto em ação pelos Espíritos das esferas superiores, cuja missão era escolher seres que se ligassem ao máximo com a natureza. Eles queriam demonstrar que o ser carnal, libertando-se das paixões, podia entrar em relação direta com as grandes correntes superiores que devem ajudar a evolução das sociedades terrestres. Disso tereis a prova no estudo da vida dos grandes sacerdotes hindus, dos lamas, que tomavam Buda como exemplo e procuravam, antes de tudo, imunizar-se contra os fluidos materiais que percorrem a Terra.

Os Espíritos Superiores tinham agido sobre uma região onde a humanidade é menos sujeita aos desejos da paixão. Refiro-me aos monges do Tibet, e depois a outros vultos da Índia. Eis então um ponto certo: o ser humano, em certas condições de isolamento, de ascetismo e de aspirações elevadas, pode sentir-se em constante relação com os mundos superiores. Aí estão os ancestrais dos médiuns; eles chegarão a fazer conhecer sua existência à humanidade, mas não deverão se dividir nem dissipar suas forças, e por isso ficarão no círculo oriental.

Para que o pensamento humano fosse atingido de uma maneira mais concreta, foi preciso a vinda do Cristo, que se misturou profundamente nas multidões. O Cristo, como os iniciados da Índia, trazia consigo numerosas centelhas da força divina; força esta que se transmitia por sua palavra e pela ação dos apóstolos. Mas sobre certos pontos da Terra, particularmente na vossa Gália, os sacerdotes celtas, os druidas, transmitiam igualmente as radiações do foco divino, simbolizando-os à sua maneira, isto é, inspirando-se na natureza.

O druida, como o lama, retirava das fontes geradoras do espaço as forças que despertavam sua fé e o atraíam para o foco superior. As formas podem variar, mas no círculo do oriente, no Cristianismo e entre os druidas há um ponto absolutamente idêntico: o ser humano, quando sabe se desligar das atrações materiais, vibra suficientemente para perceber as emissões nos grandes focos celestes. Os sacerdotes do oriente, Cristo e os druidas estavam impregnados dessas ondas poderosas e, em conseqüência, podiam produzir fenômenos que impressionavam as multidões.

Nos vossos tempos modernos, o magnetismo, que é uma das formas do dinamismo universal, desempenha uma função importante em todos aqueles que constituem pólos da atração e sabem usar a oração.

É preciso reconhecer que, entre os druidas, produziam-se comoções violentas, como, por exemplo, os sacrifícios humanos, últimos vestígios de uma grosseira barbárie e destinados a chocar as massas.

Desde a origem desses três grandes focos de difusão espiritualista, a fé e o ideal sofreram, alternadamente, paradas e retornos; o impulso do misticismo despertou aqui e ali, sob a ação de ondas correspondentes ao estado de evolução de nossa humanidade.

De outro lado, a ciência positiva marchou guarnecendo a fé. No dia em que um novo foco se acender sobre a Terra ele suscitará uma curiosidade bem natural. Na presente hora, os centros parecem se deslocar. Não ficarei surpreso ao ver um dia, na América, formar-se um pólo capaz de deter o positivismo do povo americano. Esse povo é, assim como sua composição étnica, muito matizado, sob o ponto de vista ideal. É do lado da Índia que se deve esperar que surjam, um dia, os fenômenos que vos interessarão no mais alto grau. Essa região da Terra está sempre impregnada de misticismo como, na França, a vossa Bretagne conserva sempre uma fé ardente no espírito do além.

Recentemente, experiências foram feitas com a participação de um ser que parecia possuir belas qualidades de transmissão fluídica; mas ele estava cercado de apóstolos muito realistas, contudo há aí uma indicação, uma direção, um simples elo de união que se liga aos feixes espirituais. É um ser evoluído, mas não comparável a Buda e nem ao Cristo! (*)

A espiritualidade deve evoluir e, em certas épocas, reavivar a fé que se afogaria no materialismo. Buda, Cristo e os espíritos dos druidas representam as forças superiores ligadas ao foco divino e trabalham para manter a Terra num grau de equilíbrio necessário para prosseguir sua evolução, porque, se a espiritualidade fosse eliminada do vosso planeta, a matéria a invadiria e terminaria por desgastá-la e dissolvê-la. A matéria deve ser mantida em suspensão pela ação superior do espírito. Na realidade, ela só é o anteparo sobre o qual se reflete o raio da vida universal.

(*) Seria Jiddu Krishnamurti (1895-1986), filósofo e escritor hindu. (N.T.)

Allan Kardec

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