Procedimentos espirituais dos druidas

Livro: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível

Autor: Léon Denis

 

(Tours, 25 de junho de 1926)

 

Seria interessante vos fazer conhecer o ponto de contato e as diferenças que existem entre as religiões orientais e o Celtismo. Reencontra-se no Japão os pontos fundamentais idênticos às correntes vibratórias lançadas na Bretagne.

Vós tendes noções precisas sobre o Celtismo e sabeis que os druidas e certos iniciados sentiam essas vibrações que, menos analisadas do que hoje, se traduziam entre eles por simples intuições.

Durante as cerimônias druídicas, os sacerdotes e as sacerdotisas passavam pelo estado de êxtase. A druidisa era a médium dos druidas, melhor resguardada, habitando no meio da natureza. Em geral ela era casta.

As populações dessa época estavam ao abrigo do materialismo e por isso era preciso sacudir sua imaginação por sacrifícios. Os sacrifícios, seja de seres humanos, seja de animais, formavam a base das cerimônias druídicas e eram precedidos de cantos que constituíam apelos vibratórios, próprios para facilitar as intuições. Certos druidas tinham o poder de provocar a exteriorização de pacientes, de modo que estes, sob a influência de sono magnético, marchavam voluntariamente para a morte.

Nessa época e nessa parte da França, a atmosfera terrestre, sob a radiação vibratória de que já vos falei, era mais fluídica do que a atmosfera de nossos dias.

Vibrações mais fortes vieram atingir a vossa Terra e, à medida que a sua crosta se espessava, a natureza das vibrações se transformou. Nós não podemos sempre, sob o ponto de vista vibratório, agir sobre o solo como se fazia no tempo dos druidas; devemos nos limitar a influenciar certos temperamentos suscetíveis de armazenar as forças fluídicas, veículos do pensamento. Seguindo a evolução de vosso planeta, vós constatareis que os eflúvios perdem o seu caráter volátil para servir-se de mais forças vibratórias, e é por aí que o cérebro humano chegará, por adaptação científica, a descobrir as fontes da alma universal.

Digo a adaptação científica e não a ciência pura, sozinha, porque se deve pôr a ciência no caminho da orientação espiritualista, e é a consciência, esclarecida pela fé, que a guiará para um conhecimento mais alto e mais amplo.

Voltando aos druidas, eles recorriam às invocações da natureza para se pôr num estado de equilíbrio, capaz de lhes fazer sentir as vibrações dos pensamentos superiores. Daí resultava para eles que o sopro superior existe, que a Terra está cercada de forças criadoras e que a vida não se detinha nos limites das florestas bretãs. Certamente, essas forças não desenvolviam, nos cérebros dos habitantes de então, invenções geniais que podiam conduzir uma civilização material quase espontânea. Mas o que os druidas já ensinavam é que a Terra é uma estação que se formou fluidicamente, devendo evoluir e depois desaparecer.

Os pensamentos dos espíritos que atingiam os druidas eram aqueles de seres que habitavam seja o Espaço, seja os mundos já formados. Quando um planeta está em formação e seres conscientes devem povoá-los, o primeiro afluxo que recebem é aquele que lhes dará, de modo imperecível, a crença na vida superior e invisível.

Essa crença deve transmitir, através das gerações, a luz da consciência que, no ponto de vista carnal, é necessária para a evolução e a transferência na pluralidade das existências.

Somos, aqui, levados a falar das raças. Deixamos o druida proceder à iniciação toda espiritual dos habitantes de uma parte da França. O camponês bretão nessa época é, naturalmente, um primitivo, sob o ponto de vista da civilização humana. Através da história nós o achamos sempre imutavelmente ligado a três grandes princípios: amor ao sobrenatural, amor à sua terra, amor à sua raça. O amor ao sobrenatural veio-lhe por este afluxo das radiações transmitidas pelos médiuns dos druidas, que, do ponto de vista humano, impregnou a matéria carnal de um misticismo sustentado por uma imaginação religiosa e uma fé ardente por tudo que é oculto. Daí um temor da vida futura no caso de uma impiedade para com o Criador. Daí derivam a ingenuidade mística das massas e também a elevação sincera que inspira a abnegação entre os marinheiros e a resignação de quase todos os habitantes da península de Armor.

A piedade, para o bretão, é a provisão que sustenta o elo da corrente das vidas. O envoltório carnal do bretão aspira os eflúvios nutritivos transmitidos pelo solo. Se, na sua consciência, ele conserva sempre o misticismo e a confiança na força divina, ele experimenta uma espécie de prazer ao se penetrar da ambiência que se desprende da sua Bretagne. Este fenômeno lhe dará o equilíbrio, forçando-o instintivamente a permanecer sobre esse solo. A natureza de sua terra se assemelha aos braços de uma mãe afetuosa, cujo coração é representado pela fé mística transmitida pelos raios do Espaço.

Em resumo, o amor ao sobrenatural e o amor ao solo natal são os dois principais fatores que formam a raça bretã. Nesse ambiente de solo ardente e misterioso, cercado pelo mar, o habitante adquirirá as qualidades superiores do ponto de vista da sensibilidade mística.

A raça bretã é por vezes sensível e robusta. A sensibilidade vibratória lhe veio do espírito e é do solo que lhe vêm o ardor e um ponto de selvageria que se refletirão no seu temperamento.

A natureza armoricana mantém na sua imaginação o culto da lenda e dos antigos ritos e, apesar das existências sucessivas e das deformações inerentes à civilização, quando vem a morte, o desencarnado bretão leva consigo os mesmos estigmas nele impressos há séculos.

A marca do Celtismo tocou, então, a raça bretã, como já disse, por capilaridade através do solo e, através das migrações humanas, a centelha céltica é e será um dos focos que animam e iluminam toda a França.

Allan Kardec

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