Livro: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível
Autor: Léon Denis
(Tours, 03 de setembro de 1926)
Vós pedistes esclarecimentos sobre certos pontos obscuros da doutrina druídica. Para esse fim pus-me em relação com as esferas elevadas a fim de obter alguns índices sobre o foco superior regenerador de vida e de amor. Três círculos, vós o sabeis, formam as bases da doutrina céltica; por conseqüência, o mais elevado corresponde ao foco divino.
As explicações fornecidas pelos espíritos superiores indicam que a inteligência humana não deve conhecer o segredo da fonte suprema da vida. Eis o que posso dizer segundo as radiações que me chegam. Existe além dos planos formados pelas criaturas, de acordo com a sua evolução através da sua própria vida, uma esfera inteiramente vibratória, sem limites, que mergulha na imensidão do Universo, mas que não é sentida a não ser a partir de uma certa evolução. Essa esfera vibra e a criatura terrestre que dela saiu a percebe ainda sob a forma de vibrações da consciência no “eu” interior.
As vibrações do grande foco estão em comunicação com a consciência, e quando essa última é desenvolvida, o sentido místico o é igualmente. Isto acontece em razão direta da evolução da consciência.
O grande foco vibratório anima todo o Universo e, de grau em grau, cada ser recebe as inspirações e as impressões diretas do foco que, na Terra, vós chamais Deus.
Vós tereis um dia a definição exata da palavra Eterno e compreendereis a célula viva inicial desse grande círculo superior vibratório. Mas o vosso cérebro humano se romperá se a chave do mistério aí for colocada. Agora, eis o ponto estabelecido sobre o objetivo e a admissão do grande círculo superior em que reside a potência criadora. As moléculas que dele emanam se difundem pelo espaço como um buquê de fogos de artifício. Elas se estendem em ondas que vão formar as centelhas criadoras dos seres. Em volta dessas moléculas fundamentais circulam as vibrações que vão formar os focos representando os mundos. Constantemente, são criados novos mundos.
Todo sistema criado tem a sua vida própria e se subdivide, ele mesmo, em um sistema particular. Os planetas têm a sua vida, as suas transformações. Os sóis, por sua vez, lançam ondas. Inicialmente forma-se o sistema gasoso, depois o mineral, o vegetal, para chegar à criatura humana. Esta, ser pensante, é movida pela centelha vinda do grande foco enquanto que os sistemas minerais e vegetais são criados pelos reflexos da geração secundária.
Tal é a evolução da matéria resultante no envoltório carnal, à qual se adaptará a vibração inicial da consciência em conexão direta com a centelha suprema. É assim que a projeção se estabelece.
As vibrações do grande Todo não são especiais a uma região comum, como se crê geralmente, mas preenchem todas as regiões do Universo. Elas não são perceptíveis para os seres a não ser na medida do crescimento de sua sensibilidade. As religiões, nas suas concepções de paraíso e de regiões celestes, apresentam somente imagens, enquanto que é verdadeiro que as vibrações do pensamento divino animam todo o Universo.
Nem todos os espíritos estão em condições de penetrar no azul vibratório, porque é preciso um grau suficiente de aperfeiçoamento para perceber e apreciar a beleza e a grandeza da vida superior. Cada sistema planetário tem seu grau de elevação e chega um momento em que todos os seres evoluídos, que habitam os planetas em via de progresso, são mergulhados mais diretamente no azul celeste. Os espíritos inferiores passam rente aos espíritos luminosos sem os ver, mas, em certas condições, os espíritos superiores podem tornar-se visíveis a fim de esclarecer os espíritos menos evoluídos.
Quando o espírito em vias de evolução pode, por seus méritos, entrar em relação com o mundo superior e receber a luz vibratória do grande foco, ele recolhe uma impressão de força, de potência, e logo que a impulsão cessa, ele fica com a percepção da luz que se liga a seu grau de evolução. Essa luz se traduz por milhões de centelhas vibratórias dotadas de uma radiação intraduzível aos sentidos humanos e que enriquecem o seu perispírito.
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Voltemos à molécula vibratória saída do círculo de Ceugant, criadora da vida. Ela é toda pureza e luz, é a fonte das criações inferiores, a animadora das vidas sucessivas, tais são os elementos que constituem a vida superior.
Os druidas foram colocados em vosso globo para levar-lhe o máximo possível de luz deste plano superior que refletia sua consciência. Nos primeiros tempos a iniciação foi direta, pois a dita consciência era pura.
Esta palavra, consciência, significa para nós centro vibratório ainda não maculado e podendo comunicar-se com o plano divino. É porque, no estudo dos seres humanos, ainda que seus atos vos pareçam repreensíveis, se a sua consciência não está destruída, fica neles um pequeno centro vibratório suscetível de reabilitação.
No início de sua religião, os druidas gozaram dos benefícios de uma comunhão vibratória muito intensa, o que lhes valeu o título de iniciados. Mas em contato com a matéria, por refração, os ensinos druídicos foram deformados pelos homens. As consciências foram obscurecidas e as intuições foram cobertas com um véu, as iniciações foram fechadas.
Então, em graus diversos, a consciência humana é muito impregnada de graça divina. Conservará ela esse patrimônio? Na desencarnação, a alma humana se coloca na luz que ela pode assimilar, conforme o seu grau de recepção e de conservação, de vibrações divinas.
Se, na saída de uma vida terrestre, a molécula divina é paralisada pela matéria, a progressão é suspensa, a lembrança das paixões materiais perturba a consciência e leva a uma espécie de entorpecimento do ser espiritual. É o que os druidas chamavam de “princípio da destruição”, porque a evolução é suspensa.
Para que a evolução retome seu curso, é preciso que os espíritos luminosos dissolvam essa espécie de casca passional fluídica para reavivar a centelha consciente, e o ser espiritual, reanimado, retomará sua caminhada através de suas existências. Numerosos são os espíritos desencarnados que se acham presos na sua evolução.
Assim como a centelha perde sua chama quando está recoberta de cinza, a consciência espiritual volta ao nada quando está muito carregada de matéria, sendo esta, sob o ponto de vista material, o suporte da essência espiritual.
Vós sabeis que essa matéria é produzida pela velocidade, maior ou menor, das vibrações entre as diferentes camadas de ondas emanadas de um ponto vibratório. Quando, desse ponto, emanam ondas espirituais para a formação de um mundo que deverá conter as centelhas conscientes, é preciso, como conseqüência, que as moléculas vibratórias mais pesadas se transformem em matéria.
No curso da evolução, chega um momento em que a molécula material evolui suficientemente para se tornar, por sua vez, uma molécula vital consciente, e isso se produz quando essa matéria se desprende de um mundo inferior para retornar ao espaço e se ligar às moléculas vitais de luz. Os druidas tinham intuição disso, visto que consagravam um culto a certos objetos materiais.
Terminarei dizendo que a centelha vital consciente, uma vez lançada na imensa arena, deve percorrer um ciclo de vidas sucessivas através dos mundos e dos espaços variados, porque tudo que muda de forma muda de meio. A marcha da sua evolução está na razão direta da conservação e do desenvolvimento da molécula vital consciente. Quando esta realizou um certo número de etapas num sistema planetário, ela se purificou e continua a subir na escala dos mundos em paralelo com outras centelhas vitais conscientes.
Há, pois, duas criações paralelas: a criação da centelha vital consciente, que corresponde ao ser humano, e a evolução da matéria constitutiva dos mundos.
Allan Kardec