Um celta eminente

Livro: Joana D'Arc, Médium

Autor: Léon Denis

 

(França, 1909)

 

Fui sacerdote, diretor das sacerdotisas da ilha de Sein e vivi nas costas do mar furioso, na ponta extrema do que chamais a Bretanha.

Não esqueçais o grande Espírito de vida, aquele que faz crescer o visco nos ramos do carvalho e que as pedras antigas de vossos avôs consagram. Sinto-me feliz por vos assegurar que vossos pais tiveram a fé. Guardai-a como eles, pois que o espírito céltico não está extinto na França; tem sobrevivido e restituirá aos filhos à vontade de crer e de se aproximar de Deus.

Não esqueçais aqueles a quem amastes, os quais todos vos cercam, como as estrelas do céu que não vedes em pleno dia, ainda que brilhem constantemente.

O poder divino é infinito; irradiado por sobre vós, através das brumas da Terra, seus raios vos chegam disseminados e enfraquecidos.

Escutai a voz do coração quando, enfrentando o oceano cujas encapeladas vagas se perseguem, vos sentis tomados de medo e de esperanças. Ela fala alto aos que o querem ouvir. Deveis compreendê-la, porquanto para isso tendes tido, reunidos, todos os ensinamentos da Terra.

Amai-nos, a nós os homens antigos desse mundo. Temos precisão de que vos lembreis de nós, meus bem amados! Que vossas almas venham visitar-nos durante o sono que Deus vos concede!

Quereis saber quem sou: dir-vos-ei meu nome; porém, que importam nomes! Deixamos na Terra, com o nosso corpo, a recordação dos nomes e das coisas, para não mais nos lembrarmos senão das vontades de Deus e dos sentimentos que a Ele nos levam, para não mais conhecermos senão seu amor e sua glória, pois que, na luminosidade infinita, todas as chamas como que se apagam: o sol de Deus as torna menos visíveis e as funde numa eterna irradiação.

A Terra não é mais do que um lugar de passagem, uma floresta profunda e escura, onde só muito surdamente ressoam os ecos da vida nos mundos.

Aí estaremos sempre, os grandes guias que encaminham a Humanidade sofredora para o fim desconhecido dos homens, mas que Deus fixou e que brilha para nós na noite dos tempos como um facho luminoso.

Esperemos o momento em que, finalmente libertos, possais voltar para junto de nós, a cantar eternamente o hino que glorifica a Deus.

Almas da França, sois filhas da Gália. Lembrai-vos das crenças de vossos antepassados, que também foram as vossas. Remontai algumas vezes, pelo pensamento, às fontes saudáveis de nossas origens, às tradições fortes e às alturas de nossa história, para recobrardes a energia e a fé, para reavivardes o espírito e reconfortardes o coração, na pureza do ar, na beleza dos cumes, na luz divina.

Allan Kardec